segunda-feira, 31 de outubro de 2011

COBRA DE MÁRMORE

Entrei já meio torto
e frustrado com o cinza
com a bebida
Toda essa vida entre avenidas
A porte do metrô abre
Lá dentro se vê apenas um homem de terno; duro, todo amarrado.
Do baixo escalão do mundo das finanças
mas com o mesmo sangue frio.
Ele está lá, nos últimos assentos, o resto vazio
tão vazio
Que chega a dar saudades do aperto
e de todo aquele contato corporal
com alguém que você geralmente manteria
no mínimo
três metros de distância
Então o velho dilema entre o medo e o preconceito
E como no fim das contas essas duas coisas estão ligadas
porque são a mesma.
Aí bateu uma tristeza
Começo a cantar "Que fim levaram todas as flores"
O Cobra apenas olha, tão intesamente quanto
Uma pedra.
Trabalho no ato e tento causar algum impacto
Acrescento um jingado e danço um pouco
Subo nas cadeiras e rodopio nos ferros
E sobrevivo esplêndidamente à toda lei da física
Volta o refrão e estou realmente empolgado
Já canto mais alto
Vinha das entranhas, da alma quente
Quente da cachaça que sobe e arde por dentro
Querida, estou queimando por dentro
"que fim levaram todas as flores"
E chega. Encaro-o nos olhos
Gargalho como hiena
E solto umas lágrimas
Uma escorre até a ponta do nariz
E então cai em seu sapato
A estátua continua estátua
O vagão para e chega o ponto de partida
do surdo-mudo filho da puta
O Cobra levanta e vai embora
Aí sim, estou totalmente sozinho.
Deito nos bancos, no quentinho
Das bundas da cidade.

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